Com carinho e respeito
Não tive muito tempo de curtir
uma fase que chamam de pré-adolescência, ou a própria adolescência, porque cedo
à vida me propôs dançar um ritmo diferente. Isso é apenas uma observação, não
uma reclamação, mas passar pela adolescência da forma como eu passei,
ensinou-me a encarar alguns momentos trágicos de forma muito lúdica.
Toda essa trajetória foi vivida
ao lado de um homem que tem todo o meu amor, todo o meu respeito e toda a minha
admiração: meu pai. Meu pai, como tantos outros, é um homem cheio de defeitos,
mas tem uma coisa que ele sempre fazia com perfeição: adivinhar meus
pensamentos! Isso me facilitou bastante a vida. Sempre por perto, olhar
fuzilante, jeito muito próprio de oferecer carinho, tinha o hábito de tirar-me
da cama puxando pelo pé, cantarolava uma música que acredito que muitos
adolescentes jamais ouvirão de uma cantora de nome Amelinha. Começava mais ou
mesmo assim: “numa luta de gregos e troianos por Helena a mulher de Meneláu...”
e por aí vai. Meu pai nunca cantarolou essas músicas de criança, que todo mundo
canta por aí. Recordo-me de um dia, quando andava de bike com ele, no varão da
frente, como sempre fazia, o ouvi cantarolar Chalana do Almir Sater. Cresci
ouvindo esse repertório que pra mim é sagrado. Não conheço quem teve este
privilégio que tive.
Em um desses momentos que Deus
coloca a nossa fé em prova, vivi uma situação marcante. Eu tinha 15/16 anos e
estava passando por um momento complicado e naquele dia, como de costume,
sentei-me para observar o céu à noite (o céu do Pará é uma das coisas mais
lindas que já vi na vida). Era uma coisa que eu fazia com frequência, mas
naquele dia, na escuridão da noite iluminada apenas pelas estrelas do céu, meu
pai sentou-se ali também. Ficou um longo tempo em silêncio... Passado algum
tempo ele me disse: - Sei que você está passando por um momento ruim e sei
também que não vou fazer você falar, mas quero te dizer uma coisa: “fundo do
poço tem molas, e, aconteça o que acontecer, eu estarei aqui”.
Recentemente numa conversa com
ele, pude agradecer por estas palavras e dizer-lhe o que elas representam até
hoje para mim. Aquele homem, que como eu havia sofrido uma perda irreparável
estava me dizendo que o fundo do poço não tinha molas? Com que direito eu
poderia querer então permanecer lá? Naquele momento não absorvi muito a
mensagem, mas aprendi a respeitar meus limites e principalmente, aprendi a respeitar
o próximo.
Depois daquilo vivi inúmeras
situações em que me relembrava daquele dia, inclusive recentemente, mas todas às
vezes, penso naquele dia, naquele céu, naquele homem e na frase – fundo do poço
tem molas. Essa frase me faz respirar, seguir em frente e ser feliz de um jeito
muito particular.
Sou feliz com coisa simples, com
pessoas singelas, com amigos sinceros e loucos, com família grande, com meus
amores imperfeitos...
Sou feliz ao som de uma música,
do barulho do mar, sou feliz no silêncio...
Obrigada “PAI” por me ensinar até
hoje que verdadeiras coisas permanecem nas nossas vidas. Muda o cenário, mudam
as pessoas, mas aquilo que for verdadeiro permanecerá!
Te amo Jaime Vieira (meu pai).
Rê (Tulipinha)
Amigaaaaa!!! Você me emociona...sem mais.
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