A Primeira Lição de um Livro.

**Nota: 'Para ser ler um texto é preciso descobrir seu ritmo,
seu tom de voz, sua entonação...
Esse conto é pra ser lida com voz pausada, com voz de quem conta a uma criança um conto...'.
 Lu.


Era uma estante alta e havia lá livros e mais livros.

Livros de todas as idades e de todos os tamanhos.

Liz sentia que estar naquele lugar era estar em terra estranha,
em terra inexplorada,
em mundo diferente...
‘Não se encontra tantos livros juntos em qualquer lugar’._pensou Liz passando a mão sobre os alguns livros da estante.

Havia alguns que lhe chamavam a atenção, mas em especial,
havia aquele,
o livro de cor ‘bege empoeirado’
que ficava no alto,
na ponta,
segurando todos os outros.

Era um livro mediano,
capa era rústica e o nome do escritor estava apagado.
Nas pontas haviam marcas,
estava velho,
mas nada, 
absolutamente nada lhe roubava a beleza.

Por que livro não é só a arte das palavras,
é a arte das pontuações,
das capas,
o formato,
as pequenas gravuras,
aqueles pequenos números suspensos no alto da pagina e principalmente
daquela gostosa sensação de companhia.

Liz ainda não havia aprendido a ler, mas já possuía histórias, inúmeras delas.

As letras ainda eram enigmas para a pequena Liz,
mas as palavras...
Ah, as palavras já lhe eram intimas e preciosas.


Mesmo não sabendo ler, Liz podia ficar horas e horas folheando aqueles livros,
contando sobre histórias que nunca havia lido,
mas que estavam lá, em algum lugar.

Naquela tarde ela tocaria o seu livro predileto,
estava disposta a tê-lo com ela naquele entardecer.

Subiu na estante com muito cuidado e pondo-se na ponta dos pés,
esticou seu braço o máximo que pode, como se pudesse,
com um pouco mais de altura,
tocar as estrelas.

Segurou com seus pequenos dedos a lateral do livro e tentou puxá-lo para si.

Era mais pesado do que imaginara.
‘Deve ter muitas palavras obesas lá dentro!’._pensou Liz irritada por sua força não ser suficiente.

Mais uma tentativa e agora o livro estava no chão.

Ele e mais dois.

.

Desceu com cuidado de onde estava e sentou-se no chão.

Pegou o livro, passou seus dedos pela capa e sentiu nele rugas de expressão que só os velhos e sua tia Nice tinham.

Estava com ar pesado,
cara de velho que havia cansado de viver e de pensar.
‘Logo vai morrer tadinho’._lamentou-se a menina.

Abriu o livro.

Só havia palavras e números suspensos no alto de cada pagina.

Sabia contar até dez e percebeu que o livro terminava com o numero 7 mais 8 mais 6.

Havia olhado para aquele livro desde a primeira vez que adentrara a biblioteca de seu avô, mas agora ele estava ali em suas mãos e estava...
Mudo.
Nenhuma palavra lhe veio.
.
Silêncio e um susto.

A chuva havia aumentado lá fora e agora também caiam dos céus relâmpagos, e trovoes gritavam por atenção.

Colocou o livro no seu peito e foi para a janela.

Naquele dia aprendera uma valiosa lição:
‘Às vezes as palavras se vão’.

-
Mas elas voltam..._ sussurrou de leve um dos livros que estava no chão, ainda fechado, intacto, nem ainda percebido pela pequena Liz



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2 comentários:

  1. Lú esse é o cantinho dos amigos! Um lugar que reservei para fazer um carinho na alma daqueles que admiro!

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